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João Maria Gusmão + Pedro Paiva — A Sopa

Ciclo Art Collections – Colecção Norlinda e José Lima

Quando e como foi adquirida a obra “A Sopa” de 2009, da dupla de artistas João Maria Gusmão + Pedro Paiva?

— A obra “A SOPA” de 2009 da dupla João Maria Gusmão + Pedro Paiva foi adquirida quase imediatamente após a sua produção.

Quando a vi pela primeira vez, a decisão ficou tomada.

É de facto uma obra extraordinária que se encaixa perfeitamente naquilo que sou como colecionador. Quando da compra de uma obra, nunca me interessou o seu percurso, mas, em alguns casos, interessa-me o seu autor. Esta, não foi pela autoria que a comprei. Foi pela beleza afetiva que senti quando a vi. É uma obra-prima de originalidade, de beleza, técnica, bom gosto, curiosidade, receio, solidariedade e aprendizagem – contem todos os elementos caros aos humanos bem formados – além de ser genial na sua execução quer técnica, quer como ideia.

Esta obra, além de ter estado em Veneza no ano em que a dupla representou Portugal, fez parte da grande exposição apresentada no Centro de Arte Oliva “Os animais que parecem moscas” que inclusivamente foi considerada uma das melhores exposições de 2017. Pode falar-nos um pouco desta exposição?

— A exposição que os meus amigos fizeram no Centro de Arte Oliva em 2017 foi, por muitos críticos nacionais e internacionais, considerada a melhor exposição do ano. No entanto, o seu impacto na altura, por falta de mediação a nível nacional, foi quase nulo.

Para os artistas, que a fizeram a meu pedido, nada lhes acrescentou, o que lamento, sem deixar de agradecer-lhes profundamente o facto de a terem feito e de a ter visto nascer.

Era, foi, uma exposição extraordinária e mágica. Tinha obras fantásticas que provocavam sensações únicas e êxtase a quem as via. Das melhores exposições, para a sua dimensão, que já vi. Uma exposição bela e de puro ilusionismo, feita por uma dupla de génios.

Sendo assim que tipo de relevância adquire a obra “A Sopa” dentro do núcleo que a colecção tem desta dupla de artistas? Porquê escolher mostrar “A Sopa” no ciclo “Art Collections” da Appleton?

— Quanto “A SOPA”, fez parte dessa maravilha.

Embora Darwin não quisesse dizer isso, ficou para alguns, que no seu livro “A Teoria da Evolução” a Humanidade descende do macaco, o que não é verdade, nem ele o escreveu. Ele disse que a Humanidade descende de um ancestral comum que na sua evolução se divide em dois ramos, um onde se encontram os macacos, e outro onde se encontra o Homo sapiens. Mas a ideia inicial parece ser verdade e isso é a grande beleza desta obra, e que na minha opinião pessoal demonstra a genialidade dos artistas, sendo por isso das melhores obras da Colecção Norlinda e José Lima. Por tudo isto foi a escolha óbvia para o ciclo “Art Collections” da Appleton.

Quanto tempo tem a colecção Norlinda e José Lima? Como nasceu e como funciona nos dias de hoje a sua ligação ao Centro de Arte Oliva?

— Colecionamos há cerca de 40 anos. Temos, como sabem, a coleção no Centro de Arte Oliva em São João da Madeira há cerca de 10 anos e sem entrar em muitos pormenores, apenas digo que o colecionador ainda não conseguiu, longe disso, nem 20% das razões que o levaram a expor a sua coleção.

As “exigências” são muitas, as vontades são poucas e a mediação é quase nula. E nesse aspeto por aqui me fico.

O que significa ser colecionador em Portugal?

Perante um mercado pequeno e limitado sente-se uma maior responsabilidade?

— O colecionador em Portugal é uma espécie “estranha” com muitas vertentes, nem todas virtuosas.

No meu caso, em primeiro lugar, está a paixão pela arte. Em segundo lugar, após exposição pública, o desejo de que a coleção chegue a todos os públicos e para isso não regateio esforços para que todos, mesmo todos, possam usufruir dela, claro que, com o cuidado devido com o local onde isso é feito e com guias/precetores para ir informando o mínimo, mas o necessário para a melhor compreensão da arte contemporânea.

Depois, o lado menos bom, reconhecimento social a que fujo, o ato de posse e da importância de possuir.

Muito mais poderia ser dito, mas acho o suficiente para se perceber o que de bom e de mau se pode pensar de um colecionador.

É um colecionador compulsivo ou racional?

Sou um colecionador mais impulsivo que racional. Compro o que gosto sem levar muito em conta opiniões externas, que considero um erro, a coleção tem algumas vantagens por esse facto mas também muitos inconvenientes. Gosto e gostaria de mostrar a minha coleção sistematicamente, primeiro na minha região (Distrito) e depois alargar o seu âmbito até ser reconhecida no país.

Para isso está sempre disponível, especialmente para escolas, universidades, centros de arte, ou outras instituições do género.

O reconhecimento internacional não me interessa, sabendo que, até que na cidade onde vivo, muita gente a desconhece. Tenho soluções, faltam parceiros.

O intercâmbio, os debates, as conferências, sair “fora da caixa” e “passar” a coleção para todos os públicos, fazer um trabalho de “sapa”, primeiro a nível regional e depois, muito depois, nacional é o que o colecionador pretende.

E mais não digo porque não devo, mas estou sempre preparado para também ajudar a que a ARTE CONTEMPORÂNEA faça parte da cultura em Portugal e possa chegar a todos os públicos.

Pela minha parte e da minha coleção, a disponibilidade é total.

José Lima, Maio 2022

João Maria Gusmão + Pedro Paiva “A Sopa”, 2009
 Filme 35mm (transposto para 16mm), cor, sem som, 3’35’’


Representação Oficial Portuguesa na 53a Bienal de Veneza, DGARTES, Ministério da Cultura, Portugal. Agradecimentos: Jardim Zoológico de Lisboa.

Coleção Norlinda e José Lima em depósito no Centro de Arte Oliva

Mecenas HCI; Colecção Maria e Armando Cabral

creditos © bruno lopes

HCI / Colecção Maria e Armando Cabral / / /