BOX

Laura Gonçalo — Souffle

Co-produção Balaclava Noir

Solidão, silêncio e gritos. Por esta ordem.

Perguntei à Laura: “Já pensaste no que queres fazer para a exposição?” “Não sei, queria fazer qualquer coisa com uma boneca insuflável”. Gostei logo da ideia. Continuou: “Queria pensar sobre a ideia de, se usaria o último fôlego para encher a boneca ou para a contemplar.” Consumar o desejo através do objecto ou contemplar o objecto de desejo.

Fomos forçados à solidão. E não valeu a pena gritar, não estava lá ninguém para ouvir. Então ficámos no silêncio da respiração, a única coisa que ouvimos quando queremos silêncio absoluto. Era a respiração que estava em causa, esse bem vital, essa operação de troca entre oxigénio e dióxido de carbono, que tivemos de filtrar, foi a nossa fonte de oxigénio que ficou contaminada. A falta de ar feznos recolher ao silêncio do nosso próprio ar, da nossa operação de troca vital. Ficámos mais próximos de sentir o que nos faltava em conjunto, mas que a solidão nos obrigou a ouvir, o Ar, o Sopro, e foi aqui que ficámos em suspenso, quando nos ouvimos.

Ficámos suspensos porque respiramos e por isso precisámos de âncoras, de amarras, sacos de lastro que não nos deixassem ir. Tivemos de criar os nossos contrapesos e estivemos envolvidos em batalhas infindáveis, em diálogos torcidos pela solidão, sentindo a falta de sermos guiados pelo ruído, esse oposto do silêncio, mas que também não é um grito. Um grito é quando o ruído é nosso, quando somos nós, mas sem ar não conseguimos gritar, e a solidão é isso, é gritar sem ar.

Silêncio Do silêncio faço um grito (…)

Ai, como dói A solidão quase loucura

Amália Rodrigues, cercou entre estas estrofes a letra de “Grito”. Ela já nos tinha avisado, viver sem ruído, faz doer no corpo.

João Chaves

Mecenas: HCI; Colecção Maria e Armando Cabral

creditos © bruno lopes

HCI / Colecção Maria e Armando Cabral / / /

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