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EPOW! SPLAT YEAH! — Sofia Mascate, Carlos Gaspar, Pedro O Novo e Catarina Real

Parceria Córtex Frontal e O Sindicato dos Pintores

POW! SPLAT YEAH!, é uma residência artística idealizada por Mercedes Vidal-Abarca (Córtex Frontal, Arraiolos), Mariana Gomes (artista/ Sindicato dos Pintores) e Marta Mestre (curadora). Na residência, durante duas semanas com Hugo Amorim (Meelpress) e Vanda Sim Sim (Escola de Artes da Universidade de Évora) os artistas trabalharam intensivamente a gravura e a serigrafia. Os participantes, Sofia Mascate, Carlos Gaspar, Catarina Real, Pedro O Novo. O acompanhamento crítico e teórico foi feito pelo António Guerreiro, Mercedes Vidal Abarca e pela Mariana Gomes.

A técnica e a arte de fabricar imagens

Estranho título, o desta exposição, composto por três palavras sem significado em qualquer língua e que apenas imitam sons: Pow! Splat Yeah!. Poderia ser um título paródico, mas tem antes um aspecto lúdico e retira gravidade ao que é assim nomeado. Em boa verdade, a gravura e a serigrafia, enquanto técnicas de impressão, foram sempre consideradas pelos historiadores e teóricos da arte, formas de arte menor, destituídas de invenção formal porque submetidas a um forte constrangimento técnico. O que nelas há de singular resulta sempre do encontro que se dá entre a necessidade da técnica e o acaso do resultado. É verdade que este encontro pode ser muito fecundo, mas controlá-lo e usá-lo com proveito e de maneira produtiva implica um saber e uma mestria que não são de modo nenhum as competências mais cultivadas pelos artistas contemporâneos.

Por isso, esta exposição de gravuras e serigrafias de quatro jovens artistas tem algo de intempestivo e de conscientemente lúdico. O caso mais óbvio, entre todos, é o da gravura de Sofia Mascate “Who would win”, que joga com uma marca da arte moderna, que se tornou também a referência maior da arte contemporânea, a “Fountain”, o mais célebre readymade de Marcel Duchamp. É verdade que a técnica da gravura atravessa a história da arte (mas também a história de outros campos “discursivos”: a religião, a política, etc.) e chega à arte contemporânea, mas é marcada de certa maneira pela exclusão: pelo seu lado muito técnico, não entra facilmente numa “história do estilo” nem da invenção conceptual, da “ideia” que domina a arte desde o Renascimento, muito embora tenha dado origem a obras de arte notáveis. Note-se que na base destas gravuras e serigrafias encontramos tanto o desenho em aguarela de Carlos Gaspar, como a pintura abstracta das serigrafias sobre feltro de Catarina Real, ou ainda algo que podemos aproximar à estética do graffiti, como é o caso do muro de tijolos de Pedro o Novo. Este eclectismo muito heterodoxo, esta maneira de colocar a gravura e a serigrafia ao serviço de uma pluralidade de formas não convencionais, num processo muito característico da arte contemporânea, é a experiência interessante a que se entregaram estes quatro artistas, que não se inclinaram muito simplesmente aos ditames estéticos mais canónicos de impressão pelos processos da gravura e da serigrafia. Eles integraram uma forte consciência do que é “a obra de arte na época da sua reprodutibilidade técnica”, sabem muito bem que há um essencial anacronismo nas técnicas de impressão que estão a utilizar, mas que esse anacronismo pode ser usado de maneira inteligente, até de maneira irónica, jovial, divertida. Muito embora esta exposição resulte de uma residência artística que tinha a finalidade (didáctica, podemos dizê-lo) de iniciação aos processos técnicos da gravura e da serigrafia, proporcionando o contacto com um velho atelier, em Arraiolos, onde se praticava esse métier de impressão de imagens, (embora por diversos constrangimento acabou sendo feita nas oficinas da Escola de Artes da Universidade de Évora) não há nos trabalhos que se apresentam nesta exposição qualquer fetichismo técnico. Pelo contrário, há gestos de liberdade criativa e de exploração de potencialidades expressivas e formais, onde podemos encontrar citações de artistas contemporâneos. Ou até citações da arte da Antiguidade clássica, como são as imagens de vasos de cerâmica, impressas sobre tecido de veludo, de Sofia Mascate. Não é apenas a materialidade do veludo que entra em oposição com a materialidade da cerâmica, são também os motivos figurativos que se desviam, quase sempre de maneira paródica, das representações heróicas e mitológicas da Antiguidade, acenando à banda desenhada e ao desenho satírico. A “profanação” artística é aqui muito evidente, mas de modo implícito ela está presente, de um modo geral, nos trabalhos mostrados nesta exposição. É aliás essa atitude “profanadora” e exclamativa que o título, como pura onomatopeia, anuncia. É uma maneira de suspender a significação, de convidar o leitor a observar sem preconceitos – sem pré-conceitos respondendo com justiça ao que estes trabalhos reclamam de maneira veemente. Num tempo em que se deu uma “pictorial turn”, uma viragem icónica, a velha maneira de fabricar imagens é um desafio e um gesto intempestivo de enorme liberdade, muito embora utilize uma técnica onde o constrangimento impera e é um factor da máxima importância nos cálculos do artista.

ANTÓNIO GUERREIRO

Bio artistas

Sofia Mascate (n. 1995) vive e trabalha entre Hamburgo e Lisboa. Frequenta actualmente o mestrado em Pintura na HfBK Hamburg. É licenciada em Pintura pela FBAUL (2017). Exposições individuais incluem “Birthday” / Las Palmas (2018) e “Abril, Folhas Mil” / Galeria Monumental (2018). Participou na feira JustMAD (2019) e na feira JustLX (2018), ocasião onde foi nomeada para o “I Prémio de Arte Emergente” da Fundação Millenium BCP. Foi também nomeada para o prémio “Arte Jovem” da Fundação Millenium BCP (2018). Foi premiada com a bolsa “Young Talent Scholarship” para a International Summer Academy for Fine Arts and Media em Veneza (2017). Participou nas residências ZONA Lamego (2018) e CEAC Vila Nova da Barquinha (2016).

Catarina Real (Barcelos, 1992) é licenciada em Artes Plásticas – Pintura (FBAUP) e mestre em Comunicação e Artes (FCSH/NOVA) com a dissertação: “Do Sentido: observações sobre Postura, cartografia de deus-Menor em agimento (agir+pensamento)”. Tem uma prática multidisciplinar que reúne prática e teoria e é assente em projectos colectivos, afectivos e colaborativos que vão da curadoria à coreografia.

Carlos Gaspar (1988, Lisboa) é artista visual. Formou-se em Design de Equipamento na Escola Artísticas António Arroio e em Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.

Desde 2009 que expõe colectivamente e em 2015 tem a sua primeira exposição individual The Mingus Clown na Galeria A Cunha em Lisboa. Participou também nas residências artísticas da Galeria Zé dos Bois (2011 e 2013) e em Inter.meada Residências artísticas, Alvito (2014).

Pedro o Novo é a assinatura de Pedro Fernandes, natural de Beja em 1992. Ligado a um movimento de Hip Hop, contribuiu para a produção musical e arte urbana da região. Este período revelou ser importante para uma posterior abordagem pictórica durante o curso de Pintura na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa. Terminada a faculdade em 2018, começo a desenvolver essencialmente pintura a óleo sobre tela num estúdio em Xabregas, Lisboa. Este é lugar onde amadurecem os temas que abordo numa pintura sempre figurativa e com tendência a ser narrativa.

Atualmente acabo o curso de tatuador profissional e trabalho como independente. Esporadicamente também trabalho num estúdio de azulejaria e presto assistência em escavações arqueológicas.

Exposições individuais : Dói-me a paleta”, Atelier “Caro Olaias”, Lisboa (2019) e “Nostalgia do Passado”, Galeria Municipal (Galeria Municipal), Beja (2017)

Exposições Coletivas : Exposição de Finalistas, Sociedade Nacional de Belas-Artes, Lisboa. (2019), Concurso Casa das Histórias da Paula Rego, Cascais (2019, 2018, 2017 ), “Nome do Meio”, (Casa independente) Algés, Portugal (2017), “Novos Olhares sobre o Côa”, Museu Arqueológico do Carmo, Lisboa (2017)

créditos © bruno lopes

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