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Tomaz Hipólito — 2019 display_03

O tempo presente e o tempo passado Estão ambos talvez presentes no tempo futuro E o tempo futuro contido no tempo passado.
Se todo o tempo é eternamente presente Todo o tempo é irredimível.
O que podia ter sido é uma abstração Permanecendo possibilidade perpétua Somente num mundo de especulação.
O que podia ter sido e o que foi Tendem para um só fim, que é sempre presente.

Excerto Quatro Quartetos, T. S. Eliot

O que representa o encontro de luz e negro? Que encontro, ainda que breve, resulta da confluência entre o preto que absorve e a luz que emana, activa? Em 2019 display_03 o que vemos não é uma luz aberta ao mundo, não é uma intenção de iluminar. É um desenho em cima da luz que se abre no espaço e, naturalmente, o corta, o implica a uma outra lógica. É uma linha em diálogo com as características arquitectónicas desse local. Dessa forma, se o papel é o elemento base que proporciona o desenho, os tubos de plástico velhos são o contraponto e possibilidade de expandir os limites das margem de uma folha, de riscar o papel. De libertação de uma forma pura, rígida.

Na verdade, a ligação entre desenho e espaço não é estranha ao trabalho do artista. A vontade de experimentar e responder a cenários com características e implicações muito diferentes é premissa para a actuação de Tomaz Hipólito, a par com a necessidade de os catalogar via uma disposição sistemática dos elementos nas suas famílias. draw, paper, rebuilt, object, merge, set, map, persona, chroma, são exemplos de séries centrais que o artista revisita, disseca e re-equaciona, como uma escavação na permanente construção de um léxico gestual. Um trabalho que é também uma pesquisa em andamento, impulsionada pela vontade de rastrear estes pontos no tempo e no espaço. Assim, pode um desenho no espaço ser também um ponto para onde tudo, ou nada, converge ou de onde tudo, ou nada, parece fluir?

Carolina Trigueiros

créditos © bruno lopes

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